Uma questão latente em nossa sociedade, em especial no panorama educacional é o fracasso escolar, suas origens e meios de reverter esse quadro insatisfatório.
A procedência desse “entrave” pode ter raízes bem mais profundas e pouco pensadas: A importância do desenvolvimento infantil e as reflexões sobre a complexidade envolvida nessa questão.
Mary Cassatt, 1910, Baby John Being Nursed |
O primeiro conceito a ser trabalhado é a afetividade exercida desde a concepção ao recebimento do bebê pela família. O toque, a tranquilidade, calma e estimulação são os primeiros passos na preparação do pequeno ser para o próximo núcleo social que ele irá participar: a escola.
Ainda na questão família, é plausível evidenciar a relevância da organização familiar. Na atualidade percebemos um novo modelo de família constituído, onde há algumas falhas que precisam de reparação. Os valores mais importantes oriundam da educação em casa e passada pelos genitores ou responsáveis assim como suas atitudes. A criança precisa se sentir parte dessa “corrente” e atuante nela. Atividades feitas em conjunto entre os membros familiares reforçam esse desenvolvimento.
François Boucher, O Almoço, 1739, Paris |
É na família que a criança tende a perder sua egocentricidade, se trabalhada pela mesma com equilíbrio e maturidade o pequeno irá perceber o outro e descobrir ainda que este outro é companheiro nas mais diversas tarefas e sentimentos. Nessa relação de irmão mais velho ou mais novo um tende a se sentir cuidado ou cuidador e perceberá sua importância nesse processo.
Aprende no seio familiar a construir significados construir a consciência de mundo, a formar sua identidade, ter noção de si próprio, isso tudo com um delicioso sabor de aventura.
Todos os pontos levantados até o momento traduzem a construção social da criança através de práticas culturais mediadas por parceiros que são os componentes do grupo familiar, amigos, colegas, e futuramente os professores. A aprendizagem é uma construção social, pois depende do convívio de múltiplos ângulos, onde há a cultura e história envolvida, elemento que constituem o ser humano como um todo. Esse processo não depende somente de um intermédio formal e passível de manipulação, pois, o indivíduo também aprende muito sozinho por meio da experimentação individual e como já percebemos coletiva também.
Mas afinal, o que significa cuidar e educar a criança? Essas duas ações nos confundem bastante. O professor é um cuidador ou um educador de crianças? Pois munidos de preconceito ou até mesmo certa... digamos, arrogância. Queremos perecer um mais que o outro, no caso o educador. No dicionário temos a seguinte significação para cuidar: v. 1. Ter cuidado com alguma coisa ou alguém ou com si próprio: tratar, tomar conta de alguém ou alguma coisa. No sentido mais amplo é atender as necessidades básicas se um ser, no caso. É criar um meio de vivência que propicie a segurança do indivíduo e desenvolver a construção de significados.
Já educar no mesmo manual tem o sinônimo de ensinar, instruir, aprimorar-se na formação intelectual e moral, desenvolver e apurar, trazendo essas significações ao teor de nossa discussão, educar significa criar condições para se apropriar de significações e formas de agir em sociedade.
Concluímos que uma não existe uma sem a outra, ou seja, não há como um professor, educador ser apenas cuidador e vice e versa. Educar e cuidar traduz-se por acolher, combater violência e preveni-la, incluir, instruir quanto aos valores como companheirismo, cooperação, amizade, que resulta em uma tarefa de humanização do ser em formação, tão importante nos dias atuais essas tarefas tendo em vista o crescente individualismo que segue nossa sociedade.
Mafalda de Quino |
Mas que atividades a pequena criança participa, ou pelos menos devem participar? O que observamos nas escolas de educação infantil é uma tendência de trabalho baseada nas mesmas tendências citadas no parágrafo anterior: cooperação, companheirismo, respeito entre outras que, reunidas em uma só frase, temos como regra: o respeito à diversidade. Todas as atividades dentro dos parâmetros curriculares para a educação infantil devem seguir essa vertente, repito, o respeito à diversidade. Lembrando também de diversificar ao máximo as atividades, com o objetivo maior de visar a participação, proporcionando as experiências dessas às crianças. Organizar o dia de acordo com as necessidades das crianças naquele período, criando um ritual meio previsível, onde o que irá mudar serão as variedades de atividade para cada momento. Trata-se da criação de uma espécie de ritual, temos o exemplo: entrada, acolhida, atividade, lanche. Pautadas por músicas infantis, brincadeiras, atividades artísticas e físicas. Usando recursos didáticos atrativos como livros de histórias, vídeos, aparelho de som, bonecos em geral, construção e desconstrução de objetos e brinquedos chegamos a um resultado bastante positivo e satisfatório, pois podemos observar por meio da participação das crianças, sua alegria em participar e o retorno por parte dos pais.
E as relações das crianças entre si e com os adultos? O que podemos dizer? É importante a instituição de uma relação de confiança e cumplicidade por parte do professor, dessa maneira o aluno desenvolver a concepção de si mesmo e nesse ambiente e relação de segurança ela desenvolve o conhecimento de seus próprios sentimentos. As atividades devem ter como meta a evidenciação da socialização, afetividade, companheirismo entre professor-aluno e aluno-aluno.
Temos, nós professores, a missão de guiar a criança no processo de construção do seu próprio conhecimento, para isso não devemos limitá-la em sua capacidade de criação, temos, ao contrário, é que instigá-las cada vez mais a buscar, a perguntar, explorar, descobrir, refletir, produzir. Por diversas vezes observamos nas escolas, traços prejudiciais das tendências da escola tradicional, que restringe e “poda” os alunos quando esses se manifestam. O professor pode através de situações de conflito estimular o raciocínio lógico de seus educandos. Trabalhar em sala temas que destaquem a cultura de povos diferentes, a nossa própria, sua diversidade, manifestação e etc. atividades com esse fim levam o aluno a perceber-se como ser histórico e com papel na construção da sociedade.
Em suma, o papel do educador é estar em constante formação, entender, respeitar e buscar meios de trabalhar as fases em que se encontram as crianças, perceber-se como responsável pelo desenvolvimento daquele ser lhe confiado durante aquele período determinado, que terá importância no resto de sua vida. Essa percepção de responsabilidade espande-se aos pais, deixar a criança andar com as próprias pernas, caírem, mas estarem ali para estenderem a mão para se levantar.
Cabe ao professor, aos pais e primeiramente ao estado exigir uma educação de qualidade, zelar pelo cumprimento das leis criadas, proporcionarem formação de qualidade e continuada aos profissionais da área, só assim o conceito de educação infantil de nosso país irá mudar e ganhar a notoriedade pública que merece, pelo bem de nossas crianças, futuros cidadãos.
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